Chus Martínez
Opening Lisboa
Le Grand Monde
Pode dizer-se que uma das razões de ser da arte e da cultura é expandir o mundo. Ao contrário das expansões imperiais e coloniais, a nossa é uma expansão de visões, modos de fazer, conhecimentos, práticas, sabedorias, gostos, experiências e também de economias. Expandimos o mundo para sermos capazes de reconhecer os outros, para nos mantermos curiosos, para sermos empáticos, para aprendermos com os outros, para mantermos as ideias em circulação. Sustentar a ideia de um mundo grande e aberto exige um grande esforço coletivo. Secções como esta, intitulada Opening, são um grande exemplo desse esforço. Galerias e artistas de lugares muito diferentes reúnem-se não apenas para ter um mercado, mas para ter uma receção, um reconhecimento, uma troca que leva à consolidação de um diálogo entre os diferentes participantes que constituem o sistema da arte ou, melhor dizendo, os sistemas da arte. Esta secção foi concebida como uma oportunidade para se aproximar do trabalho de artistas que talvez nunca tenha ouvido falar. Tentemos imaginar por um momento o trabalho de milhares de artistas que trabalham nos seus ateliês para dar uma nova forma à experiência do mundo. Graças a eles, podemos ter experiências diferentes das múltiplas dimensões que fazem da vida algo relevante, digno de ser vivido.
Por mais que nos tentem convencer do contrário, não podemos ter uma experiência profunda e significativa da vida nas nossas horas de trabalho, nos nossos escritórios, nas nossas casas atormentadas por ecrãs e séries e notícias desastrosas. Também não é fácil atingir esses níveis de reflexão através da experiência do desporto, por mais útil e maravilhoso que seja. Atrevemo-nos a dizer que só a arte e a natureza nos proporcionam esses momentos genuínos e profundos de conversa com o nosso íntimo. Uma intimidade que nos faz perceber os outros — humanos e não humanos — à nossa volta com mais afeto, que nos torna um pouco melhores. Se cada um de nós expandir o seu mundo um milímetro, o mundo expande-se em milhares e milhares de quilómetros. É por isso que nos devemos aproximar de todos aqueles que nos possibilitam o acesso às obras dos artistas. Nesse sentido, Opening é uma secção que só pede uma coisa: um pouco de tempo para conversar com aqueles que fazem parte deste espaço e curiosidade para ouvir as múltiplas histórias que alimentam a geração de cada uma das obras apresentadas. Não há tempo mais bem empregue.
Curadoras:
As Formas do Oceano
Quantas formas tem a água salgada que forma o oceano Atlântico? O que acontece quando artistas de diferentes portos do atlântico, ocupam um espaço central na cidade de Lisboa?
Essas e outras perguntas fazem parte das muitas questões que se erguem a partir da presença de um conjunto de galerias das diferentes Áfricas, Américas, Europas. Nesse ano, se somam a esse programa também, galerias brasileiras apresentando a produção afro-brasileira ou seja feita por aqueles homens e mulheres que nasceram no país com maior população negra, fora do continente africano.
O que as formas do Oceano parecem revelar é uma produção artística de extrema sofisticação e que desde seu surgimento flerta com a dimensão que ultrapassa os limites nacionais e se espraia transacionalmente, reunindo experiências que afirmam a centralidade das poéticas negras no cenário da arte contemporânea internacional.
Durante a Arco Lisboa, players de diferentes partes do ambiente artístico global, terão a oportunidade de aprofundar sua relação com a produção de uma arte que inevitavelmente nasce com a língua e a linguagem do Oceano, que de muitas formas inventou a experiência moderna ocidental. Que isso aconteça a partir de Portugal, é mais uma das provas de que as formas do oceano são ao mesmo tempo bravas e poéticas.
Reunir artistas e galerias que conectam a noção de América Negra a uma perspectiva mais ampla da dimensão Atlântica do mundo, é uma das pautas que permitem compreender as diferentes formas de elaboração da experiência poética de pessoas negras. Há, indiscutivelmente, práticas artísticas de extremo rigor e que se apresentam aqui pelas suas proximidades,mas também pelas suas particularidades.
Esta curadoria parte da conversa entre dois curadores e procura abordar estas (des)conexões a nível das artes visuais – trocas poéticas entre artistas africanos e afro-diaspóricos e brasileiros. Desenhado a pensar nas relações afro-atlânticas de forma expandida, não limitada apenas pelo território e geografia.
Paula Nascimento & Igor Simões, curadores
Curadores: