A Coleção Fundación ARCO: 1986-2006
Por Rosina Gómez Baeza.
Decorria o ano de 1986 quando a IFEMA nomeou uma das diretoras da “casa” para assumir a direção da ARCO. Tendo estado ligada ao evento desde o seu início, não me foi muito difícil aceitar o que era claramente um desafio aliciante.
Elaborei um plano de ação que respondesse a algumas das necessidades mais urgentes do setor da arte na altura, nomeadamente a criação de património, ou seja, o colecionismo, a internacionalização da cena artística e o acesso generalizado à arte contemporânea.
A Fundación ARCO foi criada em resposta a estas exigências legítimas. O seu objetivo estatutário era iniciar uma coleção de arte contemporânea que servisse de exemplo e referência para outras entidades públicas e privadas e que fosse um reflexo fiel da evolução da arte desde 1960 até aos nossos dias.
Nessa altura, as coleções públicas encontravam-se num estado embrionário e a abertura de museus de arte contemporânea estava ainda a anos de distância. A Fundação, devido ao seu carácter não lucrativo, acolheria as obras adquiridas nas sucessivas edições da Feira, conferindo-lhes valor e significado cultural, e chegámos a estudar a possibilidade de abrir um museu de coleções privadas nas Naves 15 e 16 do Matadero para estimular o colecionismo e divulgar a arte contemporânea. É de salientar que, dada a sua singularidade, o valor económico atual da Coleção Fundación ARCO atingiria números surpreendentes.
Consultei vários profissionais sobre a pessoa mais adequada para selecionar as obras, entre os quais Carmen Giménez, na altura diretora do Centro Nacional de Exposições do Ministério da Cultura, que propôs Edy de Wilde. Considerei-a a pessoa mais adequada devido ao seu prestígio e ao seu bom trabalho à frente do Museu Van Abbe de Eindhoven e do Stedelijk de Amesterdão, do qual acabava de se reformar.
De Wilde propôs-se estabelecer uma base sólida sobre a qual construir a pluralidade. Datam desses primeiros anos as obras de Polke, Kounellis, Buren, Richard Serra, Richard Long, Donal Judd, Carl Andre, Turrell e Jesús Soto, uma aquisição de 1992, precursora da eclosão latino-americana que veio no final dessa década. Ao longo de oito edições da ARCO, De Wilde forjou a personalidade da Coleção e, segundo Ferrán Barenblit, tornou-se uma fonte de inspiração para aqueles que estavam prestes a nascer. Estaremos sempre gratos pela sua visão certeira e pela sedução das suas propostas.
Com o objetivo de perseverar na conservação do legado patrimonial, em 1996 a Coleção foi depositada no Centro Galego de Arte Contemporânea (CGAC), em Santiago de Compostela, e nesse ano a sua diretora, Gloria Moure, adquiriu as obras. No ano seguinte, 1997, confiei as aquisições a Jan Debbaut, então diretor do Museu Van Abbe e grande colaborador do lendário Jan Hoet, fundador da SMAK e curador da documenta IX. Debbaut adquiriu obras de Juan Muñoz, Mike Kelley, Orozco, Kcho, Penone e Thomas Schütte, entre outros.
Foi em 1998 que a seleção foi confiada ao curador americano Dan Cameron, nesse ano em colaboração com a futura diretora da Whitechapel em Londres, Iwona Blazwick, então curadora da Tate Modern. De 1999 a 2006, a minha última ARCO, Cameron e María de Corral, diretora da Fundación La Caixa e do Reina, realizariam, nesses anos, a seleção de cento e noventa e quatro obras. A variedade e diversidade das obras é extraordinária.
Através da Coleção pode narrar-se uma história da arte recente, como escreve Barenblit* no magnífico catálogo que publicou em 2014 durante o seu período à frente do CA2M Centro de Arte Dos de Mayo. Nesse mesmo catálogo, Estrella de Diego destaca a radicalidade de algumas peças, reconhecendo o talento de quem as selecionou. Uma coleção poderosa pela solidez dos nomes e pela qualidade das obras, que, como assinala María de Corral na mesma publicação, era uma fonte de esperança, já que não existia em Madrid outra coleção com estas características.
A Coleção Fundación ARCO é uma espécie de “coleção de coleções”, muito rica nas múltiplas perspetivas que a foram moldando e consequência da complementaridade dos talentosos profissionais que nela convivem. É com grande satisfação que verifico que continua tão viva como no dia 17 de fevereiro de 1987, quando Edy de Wilde decidiu fazer as suas primeiras compras.
Imagen: Leo Villareal. Untitled. 2003. Fotografía CA2M